domingo, 25 de novembro de 2012

Falácia

Não faz muito resolvemos que seríamos insanos. Metamorfoseamos loucuras em normalidade. Era quase diário, fingíamos acreditar que o mundo se esvairia e passamos a forjar realidades. Na verdade, inquietos, explodimos, nós mesmos, o resto do mundo. O sangue pulsava com muito mais força se diluído em álcool, o cérebro só funcionava depois das 16h20 – isso quando acordávamos antes de 16h20. Debatíamos coisas sem importância alguma na pressa do não amanhã. Mirabolávamos novas filosofias, sempre concluindo nada; perdíamos-nos, antes, no turbilhão de lacunas que assolava a nossa cabeça. Dava tesão imaginar que, enquanto apenas fritávamos sob um sol de 40 graus sem proferir uma única palavra, o resto do mundo se esgotava em sua previsibilidade fodida. Fundida. Fedida. E que se foda o protetor solar, estávamos vivendo. Os dias em que resolvíamos desacelerar, nos assombrava uma ressaca social que só passava voltando pro abismo. Era vazio, mas o que fazer quando se compreende que nosso mundo acaba toda hora? Sempre nunca existiu, não há tempo pra isso. Sempre nunca há tempo suficiente pra coisa alguma. Precisamos correr. Acordar, bater ponto, comer, bater ponto, comer, banho, sexo, dormir, acordar ponto comer ponto comer banho sexo dormir acordarpontocomerpontocomerbanhosexodormir... Cada vez mais velozes. Cada vez mais ferozes. Correndo pra ganhar tempo e poder perdê-lo correndo mais e mais. Atropelando pausas. Afinal, há sempre a falsa esperança do amanhã.


Para T.L. e nossa falácia atualmente tão lógica.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Masturbação Mental


Dia insuportavelmente quente - falso preâmbulo de fim de mundo. Obrigou-se a andar o dia todo,  estimulada pela incontrolável vontade de se livrar da carapuça fordista - aquilo lhe aumentava em 5 graus a sua miopia já não só literal. Uma dosagem diária de mesmice e logo se viu dependente. Era uma inércia química que, consciente, permitiu correr em suas veias. Viu morrer seu prazer. Ficou broxa, assexuada, frígida. E era cúmplice de tudo isso. Em dias insuportavelmente quentes, como hoje, costumava se questionar. Tanto calor seria só clima ou vinha de dentro pra fora, como se aquele incêndio que já lhe habitou as entranhas clamasse por nova combustão?

Percebeu antes da metástase: que morra o conforto das linhas de montagem, mas que nunca morra o tesão de fazer diferente.

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Amassou o papel rabiscado de divagações. Sorriu.

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Sentiu-se viva. Masturbação mental excita o léxico.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Meio eu, nada amor


Onde vivo, sou noite. Se viajo, dia. Manga gosto verde. A carambola tem de ser extremamente madura. Caqui de jeito nenhum. Suco sempre sem gelo. Mas Jack only on the rocks. Nasci no interior, me criei na capital, hoje moro numa metrópole. O jeito fechado é herança espanhola. A intensidade, ascendência brasileira. E, mesmo assim, continuo sem uma identidade definida.

Vivo só e gosto, mas tenho medo dos domingos sem companhia. Dou conselhos que não sigo. Brigo com amigos que não seguem os conselhos que dou e não sigo. Não tenho senso algum de direção, mas sempre sou cheia de certezas seguramente erradas quando estou com um grupo de perdidos. Sou incompleta por tantas metades. Nem lá, nem cá. Nem 8, nem 80, sou prólogo do primeiro: sou 7.

Incompleta por si só? Incompleta pra mim, só, suficiente. Eu, que de tantas metades, não tolero ser meio também no amor, essa tabula ainda tão rasa. Metade seguirei sendo apenas para mim mesma e, ainda que vazio, prefiro continuar transbordando a minha completa solidão.

quinta-feira, 29 de março de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ecos

Ouço dentro; alto silêncio. Vazio pesando o âmago. Imensidão em excesso, ocupada por pura ausência, terreno infértil. Talvezes assombrosos: momento, espaço, doação. Não, não agora. Nunca agora. Democracia de um só, habitante monogâmica de mim mesma. Ego, eco. Eco. Eco...


Reflexão do som é espaço não preenchido.



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Sou ser só.

Mas só sou se for pra ser, não me limito em estar.


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Pra sempre oca, alimentando-me de ecos. Idas, voltas... voltas... voltas...