quarta-feira, 19 de setembro de 2007

No escuro de meu quarto

Aqui me encontro, diante deste sombrio céu de cintilantes estrelas artificiais.

Mergulhando no negro de minhas recordações, a procura de algum registro notório.

Em meio às loucuras e irresponsabilidades de uma meia vida, perco-me.

Noites sem memória, diálogos travados com o nada,
copos destilados à velocidade da luz.

Pessoas travestidas, libido em demasia, relações sem pudor.

Lá, ninguém sou. Ninguém é. Todos vem e vão.

Festividades do além mundo, esgoto, submundo.

Sinto a deterioração de tudo que me é interno.

Fígado, estômago, coração, pensamentos e preconceitos.

Cresço com o desandar de minha vida, aprendo com cada lição mal resolvida.

Fito um breu mais forte que os outros, projeção de meus pensamentos.

Negro, exacerbadamente sombrio, seguro esconderijo de sombras.

Noites sem notas, apenas noites vividas.

Ao repetir em todo crepúsculo este procedimento,

crio uma vida adoravelmente ilusória, sonho real acordada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Meados de junho - filho de um trânsito caótico.

As micro-partículas de poeira, que o sol desta nebulosa manhã revela, dançam coordenadamente em espiral ascendente diante de minha face. Mais um dia comum. Este pesado ar inóculo compõe a poesia visual que me inspira. Será a inofensiva névoa de uma fria manhã ou o mortífero ar a espalhar-se pelo carburador desvairado do ônibus que atravessa a faixa ao lado? Velocímetro a 60, cabeça a mil. Escrever dirigindo pode ser perigoso. Isso me motiva. Vejo muita fumaça, algo pega fogo logo à frente. Secos dias de inverno. Fogo destruidor a renovar. E o movimento dos carros rumando seu cotidiano continua, quebrado apenas, ora ou outra, pelo avermelhar dos semáforos. A cor do amor. Estranho, não?! Vermelho, amor, PARE. Mentalmente bombardeada. Capturo tudo. Nada me escapa. Passo por um equilibrista de meio-fio. Sinto vontade de dar bom dia ao mundo, mesmo não sendo o melhor dos dias... Sigo meu caminho. Sempre em frente, já dizia o tal do Russo, não temos tempo a perder...