terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Fui assolada por uma dura estiagem de palavras. Meses inertes, nos quais viver uma passageira utopia amorosa tomava-me o tempo... Linda tempestade verborrágica que me surpreende agora, em perfeita hora! Gozo novamente ao ver meus garranchos emaranhados nesta folha de caderno, frutos da empolgação em significar. Re-acendo em mim aquele, há muito tempo morto, fogo nas entranhas. Disputando meus sentidos com o frio na espinha cervical. Confusão sensitiva. O gelo na barriga me assola de tal forma que minha letra emaranha-se ainda mais com os tremeliques de prazer. Em alguns segundos espalharei todo meu suco nesta cerimônia que se sacramenta agora. Não consigo parar. Não me canso, mas minha respiração torna-se cada vez mais ofegante. Respiro fundo, sinto o afrodisíaco perfume da madrugada. Meu coração parece atingir seu limite de batidas por segundo. Uma explosão toma-me o ventre. Desfaleço sobre meu mais novo filho, posso morrer em paz agora. Obrigada tempestade! Poder colorir de azul anil este mórbido e vazio papel em branco me excita. Neste ato, dou vida aos meus pensamentos mais secretos. Escrevo sim. Escrevo porque adoro brincar de Deus.