terça-feira, 30 de setembro de 2008

eu ou você?

Diga-me, meu amigo.
Conheces a diferença entre eu e você?
Existe certo, existe errado?
Existirá sempre um porquê?

Deduções em demasia num terreno tão perene.
Se és não pode estar, se estás não pode ser.
Pois sou e estou, amanhã não vou prever
Mas carregarei comigo a eterna condição do ser.

Acompanhe-me, descubra-se
Não pense que sou eu, você
Você tem muito de mim,
e continuo não sendo você.

Tênue linha que separa o ser do estar
frágil tal qual o parecer
Que alimenta deduções tão íntimas
Cheias de coerências pra você

Não penses que tudo sabe
Porque é difícil saber
Não és, meu amigo, tudo isso
Que sempre acreditou ser

Eu continuo sendo eu
E você sempre você
Mesmo tendo muito de mim em tu
E em mim tudo de você

terça-feira, 29 de julho de 2008

a madrugada...

Não caminho pela vida. Não lhe dou bom dia, boa tarde ou boa noite e, desapercebida, volto ao meu estado inerte de mera peça compositora. Não ando pelos dias como uma caxeira viajante rumo ao nada. Não complemento cenários. Não sou mais um vidrinho na estante do supermercado. Rotulada, encaixada, classificada, com o preço estampado na testa e a data de validade exposta, pra quem quiser ver. Viver! Eu vivo pelo caminho. Sigo vontades, não regras. Odeio bipolaridades, já que a vida é bem mais do que certo e errado. Bem e mal. Sol e chuva. Noite e dia. Quanta baboseira! E os perfumes afrodisíacos e inebriantes que inalamos durante as madrugadas? Irreais?! Jamais, eu te direi. São eles que alimentam minhas noites e inspiram meus dias. A madrugada e toda sua fantasiosa verdade. É nela que os sorrisos, tão artificiais e forjados, nos mostram a felicidade barata. A madrugada e seu libidinoso elixir tornam possível viver de amores, amoras e mortes. Mortes por segundo. Do eu. Do você. Do eu que se apaixonou por você. Sentimentos efêmeros e descartáveis. Pessoas bumerangues e seus beijos plásticos. Relações compromissadamente descompromissadas. “Tenho tanta gente e estou sempre tão sozinha”. A madrugada é trapaceira, amigo. Dá-te todos. Mas, ledo engano, não tens ninguém. É assim, o prazer existe e deixa de existir antes mesmo que você goze de parte do que lhe foi oferecido. É a nota de 50 reais que você encontra amassada no bolso daquela velha calça... no momento em que você a pendura no varal para secar. Não caminho desinteressada pela madrugada, vivo. Observo. Silencio, junto ao silêncio das fortes batidas eletrônicas, que testemunham todos os truques comigo. A madrugada é encantadora. Suas artimanhas seculares cegam, abobalham-nos de forma irreversível. Seus presentes, sem passados e cujo futuro não se tem notícias, dopam. Alquimia pura! Entramos em êxtase, passamos a existir num mundo de prazeres. Sexo sem sexo. Bocas que se encontram, engolem, babam. Línguas que se perdem a procura de sinônimos para um beijo. E encontram o fracasso. Fagocitam, mas desconhecem sentir o coração com os lábios. Madrugada. Exatamente você. Minha grande professora. Me mentoreou. Me mostrou o perfeito mundo das imperfeições. Despeço-me de suas tentadoras oferendas. Doei-me ao Amor. Um único. Mas nunca, em todo o meu viver, serei capaz de me despedir de você...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Só a antropofagia nos une!"

Como.
Como.

Como.
Como a lua, como o céu.
Como o céu também, já que a lua não o come.

Como eu, como você.
Como você se Comer eu.

Como eu, e aprendo.
Como eu.
Como um eu diferente a cada dia, Como.

Como.
como Como.

Como, cresço,
como cresço!
Cresço.
Cresço.

Cresço.CRESÇO!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Era uma vez um olhar. Fazia muito este olhar seguia seu rumo, com a visão comprometida por uma tal de insegurança. O caminho lhe parecia turvo, cheio de curvas e penhascos, com um destino incerto e objetivos ainda desconhecidos. A vontade de rumar ao além do até então vivido tomou-lhe frente, a curiosidade do que estava por vir berrou-lhe esperança. Aceitou suas escolhas. Deu o primeiro passo e deixou-se levar pela brisa da novidade. Era um difícil caminhar, afinal, andar por terras ainda inexploradas é um ato de coragem e ousadia. Partiu, sozinho, na espera do que o futuro lhe prometera. Seriam dias árduos e noites tempestuosas? Ou deparar-se-ia com floridos campos de girassóis? A ânsia por explorar o ainda incógnito, o apetite por experimentar novos sorrisos e a sede por jovens ares sempre estiveram em sua curta história. Caminhou. Caminhou como quem carregava em si toda a segurança de uma longa vida, mas escondia, na lágrima contida por trás da íris, a inexperiência de seus poucos anos. Não sabia se escolhera seguir para o lado certo, apenas escolheu. Por horas deparou-se com caminhos que lhe pareciam conhecidos. As árvores eram menos verdes do que as que contemplava diariamente pela sua janela, mas continuavam tortas e secas. O céu ainda era pesado, e o ar, mesmo inócuo, continuava a lhe rasgar a garganta como se houvera engolido um punhal. Ainda assim, a curiosidade, a vontade de tentar viver tudo que a vida lhe ofereceria, não lhe ofuscou a visão. As mesmices com as quais constantemente esbarrava, antes excitantes e divertidas, tornavam-se supérfluas, mero passatempo. Era interessante caminhar na direção de suas vontades. Sabia que, hora ou outra, encontraria algo que lhe faria sentir-se leve, diferente, especial. Em algum momento presenciaria a sublime experiência de quase morte. Cruzaria com um olhar tão puro, que toneladas de dúvidas lhe abraçariam os pulmões, apertando-os. Sufocaria-os de forma tão brutal e avassaladora que ele buscaria as respostas no ar e perceberia que respirar seria indiferente. Aquela falta de ar gostosa e súbita lhe entorpeceria. O vazio no estômago tomar-lhe-ia o pensar. Seriam segundos. Segundos intensos. Segundos eternos. Saberia ali, ao sentir seu coração pulsando em meio ao ventre, que aquele olhar lhe domaria por todo o sempre. Por isso continuava a caminhar, com a ciência que por vezes tomaria o caminho errado, quebraria nos mais improváveis atalhos, tropeçaria nos mais inofensivos obstáculos. Mas caminharia. Caminharia atrás de seus sonhos e não ficaria estático, a mercê do destino e suas táticas egoístas. Caminharia até o final de seus dias. Mesmo que, somente nos últimos milésimos de vida, caminhasse de mãos dadas com alguém.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Em ano de eleições...

O desafio alçou vôo
Traço metas etílicas em guardanapos de botecos
Ser ou viver, eis a questão
Fétidas máscaras de papel marche
Meio balde de ácido nítrico, cá está a solução
Deformidade de um sistema incrédulo
Insípido e intolerante
Sabor intragável, ânsia de vômito envolta em bandeiras
“Tome partido, oh menino brasileiro!”
Vista esta camisa,
bata palmas para o coronel
Hoje tem marmelada com o corpo de Cristo
Amanhã você será cidadão
Eis ai o ‘futuro’ da nossa Nação

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Fui assolada por uma dura estiagem de palavras. Meses inertes, nos quais viver uma passageira utopia amorosa tomava-me o tempo... Linda tempestade verborrágica que me surpreende agora, em perfeita hora! Gozo novamente ao ver meus garranchos emaranhados nesta folha de caderno, frutos da empolgação em significar. Re-acendo em mim aquele, há muito tempo morto, fogo nas entranhas. Disputando meus sentidos com o frio na espinha cervical. Confusão sensitiva. O gelo na barriga me assola de tal forma que minha letra emaranha-se ainda mais com os tremeliques de prazer. Em alguns segundos espalharei todo meu suco nesta cerimônia que se sacramenta agora. Não consigo parar. Não me canso, mas minha respiração torna-se cada vez mais ofegante. Respiro fundo, sinto o afrodisíaco perfume da madrugada. Meu coração parece atingir seu limite de batidas por segundo. Uma explosão toma-me o ventre. Desfaleço sobre meu mais novo filho, posso morrer em paz agora. Obrigada tempestade! Poder colorir de azul anil este mórbido e vazio papel em branco me excita. Neste ato, dou vida aos meus pensamentos mais secretos. Escrevo sim. Escrevo porque adoro brincar de Deus.