terça-feira, 8 de abril de 2008

Era uma vez um olhar. Fazia muito este olhar seguia seu rumo, com a visão comprometida por uma tal de insegurança. O caminho lhe parecia turvo, cheio de curvas e penhascos, com um destino incerto e objetivos ainda desconhecidos. A vontade de rumar ao além do até então vivido tomou-lhe frente, a curiosidade do que estava por vir berrou-lhe esperança. Aceitou suas escolhas. Deu o primeiro passo e deixou-se levar pela brisa da novidade. Era um difícil caminhar, afinal, andar por terras ainda inexploradas é um ato de coragem e ousadia. Partiu, sozinho, na espera do que o futuro lhe prometera. Seriam dias árduos e noites tempestuosas? Ou deparar-se-ia com floridos campos de girassóis? A ânsia por explorar o ainda incógnito, o apetite por experimentar novos sorrisos e a sede por jovens ares sempre estiveram em sua curta história. Caminhou. Caminhou como quem carregava em si toda a segurança de uma longa vida, mas escondia, na lágrima contida por trás da íris, a inexperiência de seus poucos anos. Não sabia se escolhera seguir para o lado certo, apenas escolheu. Por horas deparou-se com caminhos que lhe pareciam conhecidos. As árvores eram menos verdes do que as que contemplava diariamente pela sua janela, mas continuavam tortas e secas. O céu ainda era pesado, e o ar, mesmo inócuo, continuava a lhe rasgar a garganta como se houvera engolido um punhal. Ainda assim, a curiosidade, a vontade de tentar viver tudo que a vida lhe ofereceria, não lhe ofuscou a visão. As mesmices com as quais constantemente esbarrava, antes excitantes e divertidas, tornavam-se supérfluas, mero passatempo. Era interessante caminhar na direção de suas vontades. Sabia que, hora ou outra, encontraria algo que lhe faria sentir-se leve, diferente, especial. Em algum momento presenciaria a sublime experiência de quase morte. Cruzaria com um olhar tão puro, que toneladas de dúvidas lhe abraçariam os pulmões, apertando-os. Sufocaria-os de forma tão brutal e avassaladora que ele buscaria as respostas no ar e perceberia que respirar seria indiferente. Aquela falta de ar gostosa e súbita lhe entorpeceria. O vazio no estômago tomar-lhe-ia o pensar. Seriam segundos. Segundos intensos. Segundos eternos. Saberia ali, ao sentir seu coração pulsando em meio ao ventre, que aquele olhar lhe domaria por todo o sempre. Por isso continuava a caminhar, com a ciência que por vezes tomaria o caminho errado, quebraria nos mais improváveis atalhos, tropeçaria nos mais inofensivos obstáculos. Mas caminharia. Caminharia atrás de seus sonhos e não ficaria estático, a mercê do destino e suas táticas egoístas. Caminharia até o final de seus dias. Mesmo que, somente nos últimos milésimos de vida, caminhasse de mãos dadas com alguém.

5 comentários:

Eduardo Bomtempo disse...

Filho de peixe, peixinho é.
Se eu gosto de você, gosto dos seus textos.
É algo inerente, entende?

Me senti em cada palavra e instante.

Unknown disse...

Manu,

Como você é incrível e como escreve perfeitamente!
Amo seus textos.

Luiza

Unknown disse...

Minha aprendiz de escritora predileta. Ou seria minha mega ESCRITORA? Hm, gosto da colocação de palavra por palavra em seus textos cara mía.
E lembre-se: hoje e sempre, não pare. Jamais.
MALLEN

Anônimo disse...

edificante cara amante

Heráclides disse...

Estranho lugar esse que fica entre as linhas do seu texto. Alheia à sua vontade, uma janela se abre. Vejo-me.