quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Café com sonho....

Este negro e amargo gosto na boca me acorda para um novo tempo. Sono demais, sonho de menos. Nunca fui fã de café, mas hoje senti uma vontade aleatória e incontrolável de tomar. Denso, quase uma xícara do mais puro petróleo. Tal qual sou e me mostro, vejo minha imagem refletida na superfície. Maleável, intangível, circulante, transitória, passageira. Forço um impulso cotidiano para despertar as antigas novas palavras. Volto a ser Manuela López. Volto a ouvir meus eus e dar-lhes todo o direito de voz que sempre me impuseram. Um futuro que me era tão próximo, hoje é a miúda lembrança de um passado quase ausente. Reconheço-me, mais que nunca. Volto a respirar, inspirar e transpirar poesia. Estava adormecida, sempre tenho momentos de dormência. Mas já descobri meu diagnóstico: acordo após receber o ardente beijo do dragão da solidão. Sonhei. Sonhei como nunca havia sonhado. Mas já quase não lembro o que sonhei. Ando tomando muito café. Sonhos foram feitos para não serem lembrados ao acordar. Xícaras e xícaras. Sonhos foram feitos para serem esquecidos. E o gosto já não me sai mais da boca. Sonhos foram feitos para que esqueçamos e possamos sonhá-los novamente. Sentir a mesma excitante sensação de novidade. Sempre. Em cada amanhecer.