terça-feira, 28 de setembro de 2010

novo, de novo.

Ali esteve por quase uma hora. Entorpecida, sem mover um músculo sequer. A realidade acabara de demolir brutalmente a porta daquele quarto dos fundos. Não sabia o que fazia lá. Não sabia o que fazia voltando àquela cidade. Não sabia o que fazia, isolando-se naquele quarto velho. Nunca havia estado ali antes. Mal cabia lá dentro, ela e todo aquele hiperbólico mundo, alagado por tantos eus. Em sua mão esquerda sob o joelho esfolado, surrado por marcas de sua amnésia periódica, agoniava-lhe aquela identidade. Fora e não era. Estava, mas não queria estar. Pensava, a cabeça, pesava, a pálpebra, penava, a lembrança inexistente. Sentiu saudade, mas não soube exatamente do que. Sentiu-se burra; lera pouco, escrevera baboseiras e nunca falara o que deveras tinha em mente. E ainda faltava plantar uma árvore. Atormentou-se tentando pensar num futuro, esbarrou com o negro do passado, ausência. Refletira por alguns segundos que talvez fosse melhor mesmo uma vida cumprida a uma comprida. Sabia que não tinha tempo, nem queria ter. Seriam mais dias de decepções, quebras e buscas sem encontros. Tudo era curto demais. O certo demais nunca viera. Certo era o fim, apenas. Parou de pensar, desceu até o jardim, jogou as sementes. Sentou-se no banco da frente e decidiu esperar. O fim chegaria. Apresentar-se-ia no amarelo vívido de um ipê.

....

Despediu-se de Brasília e de tudo que um dia fora. Voltava para o novo, de novo. Uma parte morta, enterrada. Outra parte germinando dias de novas esperanças.

Um comentário:

Marcelo Albuquerque disse...

Lindo texto... Brotaram lágrimas de diamante.