segunda-feira, 18 de junho de 2007

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Andando pelas planejadas ruas de Brasília em mais uma monótona manhã de segunda-feira, deparei-me com um fato comum, rotineiro, mas este, em especial, chamou bastante a minha atenção. O avermelhar dos semáforos anunciando a dura realidade excludente dos seres humanos. Um senhor aparentando trazer na bagagem de seus traços duros 70 anos de vida, ou mais. Barba cor de cal por fazer, pele mulata, botina caramelo rota, camiseta de um xadrez visivelmente desbotado. Trazia em suas mãos um rústico chapéu de palha. Esta era sua ferramenta de trabalho. O chapéu, diante do duro fardo imposto aos homens. O sobreviver vencendo o orgulho, e a dignidade, friamente roubada pelo sistema, buscando a saída para se viver. O chapéu, o único instrumento que lhe sobrou, seu ganha pão, sua sobrevida. Ele pedia. Seus olhos brilhavam. Indaguei-me se seria a ponta de esperança que ainda movia seus sonhos ou a lágrima contida por aquela condição sub-humana. A resposta, não sei, e, talvez, nunca saberei. Eu não tinha moedas, trocados ou centavos, como ele pedia. Não tinha, de verdade. Trazia comigo as olheiras de um domingo intenso e as idéias que borbulhavam em minha mente. Trazia algo mais e não sabia que trazia. Trazia o sorriso. O sorriso que, inocentemente, dei, e que me fez perceber que sempre temos algo grandioso a oferecer. Sorri, apenas. Um sorriso sincero, daqueles que os olhos permanecem semifechados fazendo você enxergar muito além das coisas. Sorri e fui curiosamente retribuída. Sorri e vi o brilho daqueles tristes olhos aumentar como guiado por uma função exponencial. Sorri e escutei um emocionado e satisfeito “Obrigado pelo sorriso”. Sorri. Apenas e tanto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma beleza de texto.
Bela descrição. Fui conduzido a um passeio por detalhes e cores tão bem encadeados que não seria exagero adjetivá-los assim: surreais.
Bela realidade. Nas mãos de uma artífice das letras, o real, bruto, revela-se belo.
Belo olhar consciente.
Bela crítica.
Belo sorriso.